Folia de Reis Estrela do Mar
Ano de fundação: 1964
Mestre: Rogério Vieira Machado
O grupo de folia de reis Estrela do Mar foi fundado pelo mestre João Inácio no ano de 1964, quando ele se mudou de Muqui (onde já fazia parte de um grupo local, junto com seu irmão José Inácio) para Cachoeiro de Itapemirim. Inicialmente, João Inácio morou no bairro Novo Parque, depois mudou-se para os bairros São Francisco de Assis, Zumbi e IBC. Logo que chegou a Cachoeiro, João Inácio atuou um ano como contramestre da folia do mestre Salatiel, e logo depois criaria seu próprio grupo, o qual foi comandado por ele até 3 dias antes de seu falecimento, em 2009.
Em janeiro daquele ano, faltando três dias para o Encontro de Folias de Reis de Muqui, seu estado de saúde fez com que João passasse o comando da folia a seu então contramestre Rogério Vieira Machado. A morte do mestre João aconteceu no dia 1º de dezembro do mesmo ano.
Rogério conheceu a folia em 1975, quando ainda era criança, época em que o grupo ia tocar no centro espírita de sua avó, Maria Lita dos Santos. Apenas em 1985 é que Rogério, no início da sua adolescência, começou a participar da folia. No primeiro ano bateu caixa e, em 1986, assumiu a função de palhaço, a qual executou até 2005, quando passou a ser o contramestre do grupo, tendo assumido a função de mestre em 2009.
Seu João Inácio teve um filho e duas filhas; deles, somente o filho Renato o acompanhou, por algum tempo, mas logo parou. Dona Badica, esposa de João, não apoiava a folia, em especial porque João costumava sair de casa no dia 24 de dezembro e só retornar depois do dia 6 de janeiro, quando a jornada terminava. Em função disso, em 1988 sua esposa proibiu que os materiais da folia (instrumentos, bandeira, coroas e indumentárias) ficassem em sua casa, fato que levou Rogério a guardá-los em sua casa. Consequentemente, a folia passou a iniciar a sua jornada e a fazer as festas do arremate sempre ali, na sua residência, no bairro Zumbi.
No ano de 2009, todo o material da folia foi transferido da casa do mestre Rogério para o Centro Espírita Imaculada Conceição, que é chefiado por Eleni dos Santos, mãe do mestre Rogério.
Segundo o mestre conta, Seu João Inácio foi tudo para ele: tudo que ele sabe de folia deve ao velho mestre. “Ser mestre é ter compromisso, por saber da grande responsabilidade que é carregar a bandeira dos Três Reis do Oriente e de São Sebastião”.
A partir do dia em que assumiu o posto de mestre, Rogério conta que nunca mais bebeu. “Tem que se dar ao respeito para ser respeitado”, destaca. Ele diz que irá manter a missão até quando faltar e, hoje, mesmo com muita dificuldade de locomoção e de fala, consequência de um derrame, continua a comandar o grupo.
A folia de reis Estrela do Mar tem 18 foliões e 2 palhaços. “O certo são 12 foliões, mas, como chegaram mais pessoas, coloquei todos, para não desagradar ninguém”, destaca o mestre.
A jornada da folia, desde a época do velho João Inácio, sai à meia noite do dia 24 de dezembro do Centro Espírita Imaculada Conceição. Na saída, os foliões fazem uma oração para que os Três Reis do Oriente e o Mártir São Sebastião iluminem os caminhos da folia, e, quando retornam, depois do dia 6 de janeiro, agradecem a jornada do ano.
Com o final da jornada, acontece a festa do arremate, sempre depois do dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião. É uma grande festa que acontece no Centro Espírita Imaculada Conceição. Todo o espaço é enfeitado para receber os visitantes, e as mulheres são responsáveis por fazer a comida para todos. Às 18 horas as folias começam a chegar em jornada pelas ruas do bairro. Quando chegam, cantam no terreiro e vão jantar.
Às 22 horas começa o arremate. A folia entra cantando no centro espírita e entrega primeiro a bandeira. Depois, cada palhaço faz sua entrega e, em seguida, cada folião faz o mesmo, um por vez, ficando para o final o bumbo e terminando com a entrega da viola. Só aí a jornada está concluída. Depois é só renovar a promessa, para continuar no próximo ano.
Segundo o mestre, uma das maiores dificuldades em manter o grupo é a falta de apoio do poder público, já que manter uma folia de reis requer muito dinheiro, para comprar os instrumentos musicais e o fardamento. Mas a maior dificuldade mesmo é o preconceito que eles sofrem, principalmente por parte dos pastores evangélicos. “Muitos perseguem nosso grupo e nossa casa de oração, falam que tudo isso é coisa do diabo. Mas, se a folia conta a história do nascimento de Jesus, como podemos louvar o diabo?”, indaga o mestre.
Texto produzido a partir de entrevista concedida pelo mestre a Genildo Coelho Hautequestt Filho, em 2024.
Fotos: Luan Faitanin Volpato