Ormyr Caitano

Data de nascimento: 13/09/1942

 

Ormyr Caitano tem fama de mulher corajosa, do tipo que enfrenta até bicho perigoso, como uma imensa cobra surucucu, quando desafiada. O episódio ocorreu há muitos anos, mas ela é capaz de narrar com a emoção de quem acabou de vivenciar a aventura. Graças ao gesto destemido, conquistou a fama heroica.

Com seus mais de 80 anos, a mestra jongueira confessa que gosta mesmo é de dançar numa roda de Caxambu. “Quando danço, esqueço de tudo”.  A exemplo da saudosa irmã Canuta, Ormyr fundamenta o sentido de sua existência no microuniverso da comunidade de São Sebastião de Vargem Alegre, fundada pelo avô, “o velho Caetano”, nas memórias da família e na tradição do folguedo surgido nos tempos do “cativeiro”.

“Foi meu avô que mandou fazer o oratório e construiu a primeira capelinha na região”, conta orgulhosa, ao mesmo tempo em que evoca lembranças da mãe Antônia, boa cozinheira, parteira, costureira e rezadeira. E conta também travessuras dos tempos de menina, rememora “pinimbas” inocentes com as irmãs, as brincadeiras no casarão da família e a discriminação sofrida na escola. “Era muito difícil para uma criança negra aprender naquela época”, relata.

A união é um traço determinante na família Caetano. A forte ligação entre os irmãos e irmãs se fundamenta na atualização permanente da memória do clã. É por meio da repetição das histórias vivenciadas ou relatadas pelos pais e avós que essa união se fortalece.

Ormyr saiu da casa dos pais ainda menina para trabalhar como babá numa fazenda próxima. Já adulta, seguiu para o Rio de Janeiro. Casou-se, teve dois filhos, mas acabou deixando o marido e retornando para Vargem Alegre, lugar que considera seu destino. Trabalhando como lavadeira, criou os filhos sozinha, com o apoio da família. Atualmente mora em Cachoeiro, mas está sempre em Vargem Alegre.

Reconhecida como Patrimônio Vivo de Cachoeiro em 2012, a mestra jongueira diz que o Caxambu ajuda a manter viva a lembrança dos antepassados. “O Caxambu é uma dança que se dança sem cavalheiro. Qualquer um pode dançar”, assegura.

A iniciação no folguedo ocorreu na infância. “Criança não podia entrar na roda. Mas aí a gente fazia uma roda nossa e brincava com latas de querosene”, rememora com ar travesso. Ela garante que numa roda não sente o peso da idade. Quem já a viu dançar, concorda de pronto.  “É o Caxambu que dá sentido ao que somos”.

Ormyr integra diversos projetos que possuem como objetivo principal a preservação e a difusão do patrimônio imaterial local, como: Festa Raiar da Liberdade; Roda do Mês; Difusão da Identidade Caxambuzeira no Sul do Espírito Santo; Manutenção das Rodas de Caxambu de Cachoeiro de Itapemirim; e Oficinas de Formação de Capoeiristas e Caxambuzeiros no Quilombo Vargem Alegre.

 

Fotos: Luan Faitanin Volpato

 

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